terça-feira, 29 de julho de 2008

Viagem

Sento-me
O néctar é bom de cevada feito
Sinto-o flutuar descendo lentamente
Enquanto abandono a mente.

Esquecer hoje quero
De quantos são todos os amados em
Mim perdido no nevoeiro enquanto
Afloro o monte para descer.

Nesta bruma que paira
O caminho visível não é
Que lá está sei-o eu bem
Mas um passo em frente outro dou
Qual russa roleta apontada
Certa da câmara carregada
Por ti que amada sou.

As palavras são farpas
Madeira nova húmida pelo tempo
A soltura do momento é profana
Conduz à ufana vontade da cidade
Em amigos caiados de luz
Criaturas embelezadas
Por aquilo que não são.

Ou sou-o eu imaculado
Diabrete tanto tempo enganado
Por um semelhante alado
Neste mundo todos somos nado
Crescidos e enraizados
No desejo de ser, viver e existir.

A luz difusa
O fumo exalado
O néon vermelho entorpecedor
O riso do torpor
O não dizer não porque é bom
O bom que é mau
Se virmos a beleza do negro rodeado.

O silêncio do após
O suor do durante
A tristeza do momento
A dor do contentamento
Que se não evita
Eu, perdido longe
Olhando do firmamento
Regalado, espantado, sonhado.

Pautei-me pelo desequilíbrio
Orientando-me pela Estrela do Norte
Senti ter encontrado
A minha Polar Guia que hei-de ser guiado.

Um rebento, uma flor, um amor
Semente do futuro
Íman do presente
O sumo daquilo que dá cor.

O futuro a Deus pertence
E aos homens cabe escolher
Pertenças do passado
Para sempre procurado
Finalmente encontrado
Ou talvez não achado
Que é doce é
E não me vou sentir atormentado.

Uma escolha, uma visão
Uma certeza, uma elevação
Só é pena no estar longe
Que no entanto seria perto
Para viver a bela paixão
De apagar cedinho
E acordar de sopetão
Olhando o anjo dormindo
Aquele que precisa de compaixão.

Um diabrete será a melhor escolha?...
Para todo este quadro
Na música da guitarra indiana que sopra
Notas que inflamam o ar
Pudera, quisera, ser eu o tocador
Deste banjo enfeitiçado
Para que os sons alarmados
Fossem donos de um só senhor
No etéreo sonar cego amaldiçoado
De quem só sabe amar.

Amar como ninguém ama
Amar com dor
Amar com sabor
Amar que atiça a chama
E que torna indolor
Na aceitação do que se é
Porque amar é amor e
Amor é do que é adoro-te.

Perco-me no meu labirinto
Que crio no meu querer
O Minotauro persegue-me
Pelas ruas da cidade iluminada
Afastando-me mas agarrando-me
Em cada esquina confrontando-me
Comigo e com o meu saber
Daquilo que já sei
E que ele quer poder ler
Transmitido nos actos e não palavras
Não em omissões mas em repastos
De momentos solenes de partilha.

O momento vai chegando
O tempo é agora
O toque deve ser dado
Por quem detém a flama
Vermelha rúbea alaranjada
Que queima e deita por terra a espada
Protectora do arcanjo.

Quando?...
Onde?...
Por quanto tempo?...
Porquê prolongar o intento?...
Quisera eu ser o vento
E pudera eu estar
A teu lado em acento.

Estou?...

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