quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Uvas do Norte

Sinto o calor de uma estrela que brilha
Vejo a névoa que perspassa meus olhos
Encontro a luz daquele negro semblante
Que um dia soube abraçar a sorte.

Momento de transcendente existência
Cumplicidade nunca efémera entre iguais
Sensações que se desejam partilhar
Com amiúde emoção alheia vividas e alcançadas.

Alguém habita os sonhos
É o telhado e os alicerces sem saber sabendo
Numa verdade sempre repetida sonoramente
Criada está a ponte entre o etéreo eterno cosmos dialéctico.

Sabe-se sabendo
Sente-se sentindo
Diz-se calando mudo
Silencia-se nos silêncios não ditos entre sons.

A parra dá uva de novo
Vinhateiro de poda corta o cacho
Noutro lugar noutra direcção
No mesmo sentido somos...

Quem é a videira?
Será certo ou será míldio que aflora?
Virá o sulfato a tempo
Da poda do vinhateiro?

Terras ricas do Norte
De escarpas trabalhadas na dura corrida
A difícil subida à plataforma rural
Será impossível arear terreno este fértil?

Da simbiose dos organismos
Das tormentas que se sofrem pelo temporal
Da bonança que a solarenga trará
Nascerá uma nova semente?

O agricultor semeia devagar
Espera o tempo a paciência
Quando a flor brotar
Dará fruto e fragância?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

JO

Num momento de díspar encontro
Numa furtuita mansão do tempo
Energias fluem e sobem
Ao eterno espaço da ilusão.
Come-se as estrelas
Aconchegamo-nos nos braços das galáxias
Bebemos dos cometas que passam
Sentimos que somos errantes
Na fuga da felicidade que escapa
Por cada um que se cruza no espaço.
Ambos os sóis que nos iluminam
Um em crecendo outro extinto
Um que já não brilha
outro que por vezes perde fulgor
Mais não são que prendas
que os cometas condenados estão
Ao vaguear sós a cada volta do tempo
A cada volta da volta da nossa cabeça.
Merece o Universo que assomemos vida
Que nos permitamos viver
Que nos desviemos dos caminhos dos outros
Já que de cada vez que esgueiramos
Morremos mais um pouco?
Sim, devemos!
Devemos porque mesmo frios vivemos
Devemos porque mesmo presos merecemos
Devemos porque são os outros que nos merecem
E não nós os merecedores!
No altruísmo do cometa jaz a mão de luz
Aquela luz que se a não dermos ninguém tem
E que é o nosso fado
Iluminar os outros.
Continua a distribuir luz
Não te apagues nem deixes apagar
Mesmo que te soprem ventanias e temporais
Abre o peito ao vento, protege a flama nos olhos
E sê tu, livre, bela, selvagem
Aquele selvagem puro escondido na candura da indiferença
Aos olhares do mundo.
Vive cada momento como se fosse o último
Expira os "ais" da vida a cada recontro
Perde o fôlego a cada preenchimento
Penetra a força com renovada energia
Quando parece que se esvai após atingir o ponto.
Para um JO de um AN
O dois vindo do um
O ímpar que torna par
Eu e tu, dois que não é nenhum
E todos para mais algum!