segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Um oito torcido

Um mar de gente revolta
Encima um alazão parado
Cóleras expiram de suas narinas
Relinchos pelo bem amado
De entre aqueles que sofrem
As atrozes tiranias do Estado.

Marcham silenciando a dor
Por colinas que de tão largas
Estreitam ante a torrente
De lava humana que sobe
Pela chaminé do vulcão que lavra
As encostas de uma nação.

Reescrevem a história
Cunhando-a de pessoal
Fazem parte dum ponto final
Numa frase reticenciada
De ideias por acabar
Numa vida sentenciada.

Final amargo
Vitória almejada
Certeza encontrada e reiterada
Perdida na falsa palavra
Um breve relance de optimismo
Uma alegria momentânea
Uma adaga que crava
O coração de um sonhador.

Até onde perenerão os infiéis
Que afundam a nau Lusitana?
Até quando mantê-los cruéis
Que assassinam a puritana
Educação Flausiana?

sábado, 1 de novembro de 2008

Crónica de um último suspiro

Tenho de acordar
A burocracia clama
O soldado de papel
Perdeu a sua alma
Nas chamas da tinta
Acabou-se a sua chama.

Olhos cavados
Ausentes de vida
Passos que foram sagrados
Agora comem-no vivo
Pelos trilhos andados
Sombras a pedido.

"Sim Senhor"
Grita a voz mortiça
"É para já"
Diz em surdina
"Porque não?..."
Silencia a sina.

"Aqui estão"
Anuncia a solidão
"O que não consigo fazer"
Assume com resignação
"Mas tem de ser"
Confirma a direcção.

Abandona(-se) e cai
Ombros ao lado
Afunda-se na cadeira
Está desolado
Não consegue
Está isolado.

A esperança é a última fronteira
Onde todos pretendem ir
Mas todos esperam a intrepidez
De quem ousa fugir
Da marasma estupidez
Para colher os ventos do devir.

"Faz assim"
Anunciação divina
"Não te preocupes"
Mantém a sua sisma
"Alinha que é tudo manso"
Eleva a submissão
"Mantém-te tanso"
Aconselha a vizinha.

E os cães vão ladrando
Enquanto a caravana passa
É o cheiro putrefacto
De quem já morreu
Mas pensa que está vivo de facto.