Mas de cada vez que voava caia
E nunca aprendia que quem voa tem de aterrar
No chão duro da vida.
A cada aterragem uma nova viagem
A cada ressalto um grito de revolta
A cada nuvem que passa uma estalada
De água gelada que dilacera e corta.
Hoje aterrou depois de ser cortado na face
Pela nuvem de fiapos que observara
Ao longe parecia inócua mas ao perto selvagem
Demasiado espessa para ser perpassada a voar
E momentaneamente cegou.
Após esse momento de dor olhou para cima
Tantas nuvens passam calmamente e reconheceu-as
Dos seus voos intermináveis que efectua
E sentiu vontade de voar, voar e sentir outra vez
A brisa na face, o vento nas penas, o fulgor no peito e foi.
Foi e viu, viu e tocou, tocou e sentiu
Está vivo afinal de contas, existe e sente-se existir
Voar custa mas nada se obtém sem custo
E decidiu que tinha que continuar a voar
Mesmo se isso signifique voar em solitário.